terça-feira, 21 de abril de 2020

PEQUENA, PORÉM GRANDIOSA

Tinha vez que eu pedia pra mãe me rezar..Eu confiava na reza dela e me acalmava. Era uma energização que não dava pra explicar.
     " Deus te viu, Deus te criou, Deus te livre de quem para ti com mal olhou.
Em nome do pai, do Filho e do Espírito Santo a Virgem do pranto, quebrai este quebranto."
     Geralmente eram uns galhos de "vassourinha",mato que cresciam por ali no quintal ou na do lado de fora. Um tamborete de frente pra porta da rua, olhos fechados e os ramos passando na cabeça, ombro, junto com os sussurros quase incompreensíveis.
     " Eu te benzo pelo nome que te puseram na pia,em nome de Deus e da Virgem Maria, e das três pessoas da Santíssima Trindade, eu te benzo. Deus nosso Senhor que te cura.
Deus que te acuda nas tuas necessidades.
Se teu mal é quebranto, mal invejado, olhos atravessados ou qualquer outra enfermidade".
     Dali em diante os galhos marchavam e conforme fosse, avaliava o grau do mau olhado. Quanto mais murcho, mais quebrantada eu estava. 
     Mãe (que na verdade era minha "vó"), era pequena na estatura, mas grandiosa no meu ver. Era bom estar com ela. Durante anos era a casa dela o nosso porto seguro. Era onde a família se encontrava, onde diariamente a gente almoçava (na verdade comia qualquer hora que chegasse).
     " Que Deus Nosso Senhor que há de tirar, vem um anjo do céu, deita no fundo do mar onde não ouça galinha e nem galo a cantar.

Com dois puseram, com três eu tiro.
Com as três pessoas da Santíssima Trindade, que tira quebranto e mau-olhado, pras ondas do mar, pra nunca mais voltar.
Com dois puseram, com três eu tiro.
Com as três pessoas da Santíssima Trindade,
que tira quebranto e mau-olhado, pras ondas do mar, pra nunca mais voltar."
     E a reza seguia, trocando de ramo três vezes. Depois a receita dos banhos de folhas com um pouquinho de alfazema pra descarregar . Era a garantia de meses de leveza e bem estar.

     Como eu amava aquela senhorinha que, desde eu menina,  me chamava no diminutivo, principalmente pra repreender as minhas malinezas. E quando ela me rezava era como se eu me agigantasse, tal era o poder que ela emanava na benzedura.
     " Virgem Mãe da Conceição!
Mãe do poderoso Deus!
Tirai este mal, este quebranto
Do corpo de…
Deus te fez, Deus te criou.
Deus perdoa, a quem mal te olhou.
Em louvor à Virgem Maria, Padre Nosso e Ave Maria.
Mal do ar, mal do mar, mal do fogo, mal da lua,
mal das estrelas, mal do ponto do meio dia,
mal do ponto da meia noite.
Se estiveres com quebranto, mau olhado, feitiçaria e bruxaria, que em nome de Deus e da Virgem Maria, seja levado para as ondas do mar sagrado, onde não canta o galo nem a galinha, nem chora a criancinha nem há nenhum cristão batizado.
Benza Deus
Em nome do Pai, do Filho e do " Isprito santo".
Amém.
     - Menina,tu se cuida. Tá cheia de óiado. Ó prus gaio tudo muxo. Tem que ser "treis baium" de pião roxo com comigo - ninguém - pode. Umas gota de alfazema depois. Do pescoço pra baixo.
     - Sim senhora, mãe.
     Esqueci de dizer: Era minha madrinha também.

ISOBEL OZIRA

domingo, 12 de abril de 2020

A REDOMA DO SER

Fala-se tanto em isolamento
E alguns, há tantos, isolados
Há tempos confinados
Em suas tristezas
Em suas dúvidas,
Desconfianças...
Na solidão das companhias frívolas
Há tantos, perdidos
Incertos
Numa linha reta e finita
Num alicerce de areia
Numa curva fechada
Esperança de que, em certo dia,
Talvez, quem sabe
Saia dali pra não sei onde
Encontrar não sabe quem
Ou a desesperança.
Em saber que nada há,
Nem haverá.
Ou certeza, quem dera,
De surpresa, de bonança
Contrariando a aparência
Da presença insistente
Dos fantasmas, dos traumas
Da ira exacerbada 
Por tantos planos frustrados
E apenas o desejo
De permanecer ilhado.


Isobel Ozira
                                               

quarta-feira, 1 de abril de 2020

RECEITAS SECRETAS DO FAMOSO BOLINHO

MANIFESTO BLOGUIAL
Criei esse inspirado num Bolinho de Chuva e pensando em utilizá-lo para postar  contos; não de réis, o dinheiro de antigamente, mas, contos literários sem nenhuma pretensão acadêmica ou de audiência. 
 Contos leves, suaves, introspectivos e que possam ser lidos em casa, à tardinha, depois de um dia produtivo de trabalho e estivesse em frente aos vidros abertos da janela embaçada pela chuva que estaria caindo lá fora e, com uma xícara de chá quente em uma das mãos, tomando, aos poucos, um chá bem quente enquanto pensava na vida com um sonho semi devorado na outra mão.
 Isso,  o autor imaginando escrever em condições semelhantes à idealizada para o leitor.